quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Psicóloga se mobiliza para amparar sobreviventes

Luiza Leite Ferreira

A rotina da psicóloga e especialista em educação especial Regina Gloria Silva Jorge Mussi, 55 anos, recentemente licenciada para se aposentar da Rede Estadual de Educação, era tranquila. Mãe de três filhos, já adultos, dois ainda na universidade, e recentemente separada, moradora no bairro de Icaraí, em Niterói, com uma filha, caminhava no calçadão da praia, cuidava dos pais idosos, zelava pelo bem-estar dos filhos e, como toda avó coruja, paparicava a netinha de poucos meses de idade.

Mas, desde a catástrofe no Morro do Bumba, a vida de Regina mudou. Já acostumada com a ideia de relaxar e aproveitar a aposentadoria, viu-se retornando para sua atividade de origem, a psicologia, após longo tempo atuando como professora.



A reviravolta 

Regina conta que as notícias sobre tantas mortes, perdas e tristeza, nas suas palavras um momento de “desequilíbrio total da sociedade”, a impulsionaram a ajudar. Em contato com as vítimas das chuvas, sua visão de cidadania transformou-se completamente: “Saí de uma postura teórica para encontrar ações solidárias para a sociedade”.

Logo após a tragédia, ela se dispôs a prestar ajuda aos desabrigados, na organização e provisão de alimentos, produtos de higiene e abrigos. “À medida que iam surgindo mais reportagens, eu ia me sentindo cada vez mais impotente. Então, graças ao incentivo de amigas psicólogas, aderi ao Programa de Ajuda Humanitária Psicológica, iniciando um trabalho voluntário como psicóloga com as vítimas em situação de estresse pós-traumático”.

A consciência 

Tudo isso mudou bem mais do que a sua rotina diária ou profissional: “me fez ver o quanto nós, cidadãos de todas as profissões e classes sociais e econômicas, nos tornamos presas fáceis de um sistema sociopolítico tão desumano e excludente”. Uma de suas críticas é a de que a solidariedade só ocorre após o acontecimento de grandes catástrofes, quando a ênfase deveria estar em medidas preventivas para impedi-las.

Mais de dois meses após a tragédia do Bumba, continua como voluntária no Projeto Tendas da Inclusão, na UFF, na equipe do neuropsiquiatra Jairo Werner, e atende em consultório como psicoterapeuta e psicopedagoga. “O que realmente me fez mudar minha rotina foi a tomada de consciência de que a solidariedade e a cooperação são as grandes armas para o enfretamento das calamidades”. Dessa forma, a psicóloga redescobriu a paixão da profissão, e assim acredita fazer a sua parte para tornar a sociedade um pouco melhor.

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