domingo, 30 de maio de 2010

Antes da Chuva

Por Denise Tavares

Moradora nova procura lugar, em fevereiro de 2010, para se estabelecer com a família. Não conhece a cidade. Hum...adorou a ideia de morar na praia. Achou os preços um tanto, bom, não vem ao caso. Curiosa, ouve conversa dali e daqui. Traumatizada com as enchentes que enfrentou nas marginais em São Paulo – sim, ela vem de sampa – sonha com lugar sequinho, desses que a gente circula mesmo debaixo de um toró. Zum zum de cá, zum zum de lá: “Ah, a Roberto Silveira vira um mar... Nossa, a Presidente Backer, quando chove, ninguém passa...Aqui na Gavião, é só chover um pouco que é rodo na mão e reza na cabeça para não inundar a loja e a gente perder o serviço”, recolhem seus ouvidos, entre um sorriso e outro da gente simpática da cidade que sempre encerrava conversa com um “Seja bem-vinda. Você vai adorar aqui”.

Quando o mundo desaba

Detalhes da destruição no deslizamento do
Morro da Cachoeira 
De uma hora para outra ficaram sem casa, sem parentes, sem rumo. São mais de 8 mil pessoas desabrigadas, segundo a prefeitura de Niterói, fora as que viviam em comunidades ainda não visitadas pelas autoridades e que, por isso, não contam nem mesmo como estatística. Agora espalham-se por escolas, igrejas, creches, associações de moradores. Muitos retornam para suas casas, mesmo sabendo do risco: sem laudo da Defesa Civil, sem alternativa de moradia, eles voltam para tentar preservar o que lhes pertence.

Em alguns abrigos há uma tendência ao retraimento: as pessoas evitam falar, não querem ser fotografadas, não querem se expor. Em outros a situação é inversa: há uma ansiedade em denunciar as condições em que estão vivendo, um apelo à presença de jornalistas, inclusive como forma de evitar a violência da repressão em manifestações.

Prefeitura do Rio é acusada de descumprir a lei no caso das remoções

Por Rafaella Barros

A prefeitura do Rio de Janeiro vem agindo com base em decretos que contrariam a Lei Orgânica do município para retirar moradores das áreas afetadas pelas chuvas. Quem acusa é o professor e ex-procurador Miguel Baldez, conhecido por sua dedicação de pelo menos 30 anos à questão da terra e dos loteamentos irregulares no estado. Para exemplificar, citou o decreto nº 32.081, baixado por Eduardo Paes em 7 de abril, no dia seguinte à tragédia, e que autoriza a remoção forçada em caso de risco.