sábado, 5 de dezembro de 2015

O salvador necessário: a imagem da polícia no jornal Meia Hora

Por Camilla Shaw e Patrick Rosa

A apresentação dos casos policiais pelo jornal Meia Hora aponta para uma narrativa dualista, que relata uma espécie de luta entre o “bem e o mal”, mostrando duas forças antagônicas que se enfrentam diariamente na cidade: a polícia e a “bandidagem”. No meio dessa trama, encontra-se o “cidadão de bem”, trabalhador que sofre com a violência e se vê impotente diante da criminalidade, tendo na figura policial um salvador, a única entidade capaz de erradicar o crime; mesmo que, para isso, seja preciso se utilizar de métodos escusos, desrespeitando direitos fundamentais dos moradores das regiões periféricas e das classes mais baixas.
Em nome dessa luta pela erradicação do mal, esquecem-se as possibilidades de outras denúncias, como outras formas de violência, e justificam-se as ações incursivas - e de extermínio - da força policial e a intervenção militar nas favelas; pois este é um “remédio amargo”, mas necessário para a construção de um futuro de paz. Comemoram-se as apreensões de suspeitos, pois elas representam a prevenção de crimes que provavelmente seriam cometidos por esses indivíduos, criminosos em potencial. Em matéria do dia 29 de outubro, o jornal celebra a captura de um acusado de comandar o crime em Santa Cruz. Com a manchete “Traficante ‘Ben 10’ vira bonequinho de cadeia”, a matéria lembra que o suspeito é apenas investigado pela polícia federal e não afirma se há provas ou fatores que justifiquem a prisão, mas comemora a captura afirmando em seu título a culpa do investigado ao chamá-lo de traficante (ver aqui).