domingo, 30 de maio de 2010

Quando o mundo desaba

Detalhes da destruição no deslizamento do
Morro da Cachoeira 
De uma hora para outra ficaram sem casa, sem parentes, sem rumo. São mais de 8 mil pessoas desabrigadas, segundo a prefeitura de Niterói, fora as que viviam em comunidades ainda não visitadas pelas autoridades e que, por isso, não contam nem mesmo como estatística. Agora espalham-se por escolas, igrejas, creches, associações de moradores. Muitos retornam para suas casas, mesmo sabendo do risco: sem laudo da Defesa Civil, sem alternativa de moradia, eles voltam para tentar preservar o que lhes pertence.

Em alguns abrigos há uma tendência ao retraimento: as pessoas evitam falar, não querem ser fotografadas, não querem se expor. Em outros a situação é inversa: há uma ansiedade em denunciar as condições em que estão vivendo, um apelo à presença de jornalistas, inclusive como forma de evitar a violência da repressão em manifestações.


Na Estrada da Cachoeira, o protesto dos desabrigados 
Por Paula Paiva e Anabel Moutinho

Eram quatro e meia da manhã do dia 6 de abril quando o mundo começou a desabar na comunidade 398 da Estrada da Cachoeira, em Niterói. Atordoadas com o inesperado, as pessoas desciam com a roupa do corpo, sem saber o que fazer. Até encontrarem um lugar para se abrigar, foram quase 16 horas debaixo de chuva. A maior parte ficou na Avenida Rui Barbosa, entre dois morros onde os deslizamentos deixaram os moradores ilhados e com lama até os joelhos.

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Morro Boa Vista, São Lourenço: “O medo maior é que ninguém mais olhe por nós” 

Marcos Abreu e Maira Renou

Foram sete mortos no Morro Boa Vista, em São Lourenço, Niterói. Os próprios vizinhos retiraram os corpos, porque o número de bombeiros era insuficiente. Cerca de 70 casas foram atingidas e há muitas outras sob risco. Moradores relatam que a Defesa Civil ainda não chegou ao local e que só após cinco dias dos deslizamentos apareceram dois médicos, que trabalharam ali por dois dias e nunca mais retornaram. Falar da tragédia que deixou um rastro de dor e desespero no local é voltar na madrugada do dia 6 de abril e se lembrar de tudo o que foi perdido com a chuva. Alguns moradores preferem o silêncio, outros colocam seus filhos para darem depoimentos.

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