domingo, 8 de agosto de 2010

Morro do Céu, três décadas de inferno

Mais de 50 casas desabaram e cerca de 70 famílias ficaram desabrigadas na comunidade do Morro do Céu, que se estende pelos bairros do Caramujo, Ititioca e Viçoso Jardim, em Niterói. A área é vizinha a um aterro de lixo, interditado provisoriamente pela Defesa Civil Municipal no dia 9 de abril, após dois deslizamentos e a queda de árvores em seus dois acessos. Durante a tarde seguinte, equipes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros realizaram uma vistoria no local.

Os moradores vizinhos tiveram suas casas interditadas, mas resistiam em deixar o local antes de terem certeza de que receberão indenizações e garantias de que seus bens estarão a salvo. Por outro lado, moradores da Rua Antônio Carlos Brandão não receberam laudo da Defesa Civil. Houve apenas a emissão de uma declaração mediante a apresentação de fotos da situação das casas.

A área onde se localiza o vazadouro do Morro do Céu foi planejada para ser um aterro sanitário, mas, desde meados dos anos 1980, caminhões passaram a despejar ali toneladas de lixo sem tratamento, e a região se transformou numa montanha de detritos visível a quilômetros de distância.

Baixe a linha do tempo do Morro do Céu

Um mês após a tragédia, continua o impasse entre moradores e governo
Carolina Custódio, Felipe Siqueira, Filipe Cabral e Júlia Bertolini

Com 36 anos vividos no Morro do Céu, um dos líderes da comunidade, Luciano Cruz Silva, denuncia que “o lixão veio crescendo, crescendo, crescendo e hoje o cara abre a porta da cozinha e dá de cara com a montanha de lixo”. Em desabafo, o técnico em enfermagem comparou a situação à do Morro do Bumba: “A situação que vocês acompanharam no Bumba do mau cheiro e do chorume, o próprio secretário de Segurança dizendo que aquilo causa um malefício enorme você respirar, as pessoas se sentindo mal, os cães farejadores... Nós aqui estamos em situação pior que os cães farejadores da polícia. Aqui nós convivemos com isso há 25 anos”...
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Aterro interditado, fim do sustento
Marcela Sorosini e Renata Monteiro

Com a interdição provisória do aterro do Morro do Céu, parte da população local perdeu seu sustento. Dulcilene Alves, de 46 anos, sustentava seus quatro filhos com seu trabalho ali. A catadora teve sua casa atingida pelas chuvas e não pôde retirar seus pertences, pois o acesso está tomado por árvores caídas e pelos escombros das casas destruídas. “Estou desesperada, perdi tudo e não consigo buscar o que sobrou. Estou com medo de entrar na minha casa, parece que as paredes estão moles”, descreve Dulcilene...
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Cercada por imagens de santos, dona Conceição vive dias de incerteza
Emily Luizetto e Juliana Moraes

A casa é modesta, mas ampla: três quartos e um salão, repleto de imagens de santos. Foi construída aos poucos, num terreno de 300 metros quadrados, comprado em 1972, bem antes da instalação do aterro do Morro do Céu. Ali vive a aposentada Maria da Conceição, 68 anos, com o filho e seis netos. Ali é também a sede do Centro Espírita Aldeia das Sete Folhas, onde dona Conceição realiza cerimônias religiosas e coordena atividades sociais comunitárias, como festas para arrecadação de alimentos e outros donativos...
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