domingo, 8 de agosto de 2010

Um mês após a tragédia, continua o impasse entre moradores e governo

Carolina Custódio, Felipe Siqueira, Filipe Cabral e Júlia Bertolini

Montanha de lixo, Morro do Céu
(Foto: Carolina Custódio)
Com 36 anos vividos no Morro do Céu, um dos líderes da comunidade, Luciano Cruz Silva, denuncia que “o lixão veio crescendo, crescendo, crescendo e hoje o cara abre a porta da cozinha e dá de cara com a montanha de lixo”. Em desabafo, o técnico em enfermagem comparou a situação à do Morro do Bumba: “A situação que vocês acompanharam no Bumba do mau cheiro e do chorume, o próprio secretário de Segurança dizendo que aquilo causa um malefício enorme você respirar, as pessoas se sentindo mal, os cães farejadores... Nós aqui estamos em situação pior que os cães farejadores da polícia. Aqui nós convivemos com isso há 25 anos”.

De acordo com Luciano, há cerca de quatro anos os moradores organizaram um comitê para discutir com a prefeitura de Niterói a questão do tratamento do lixo na região. No período das chuvas, em abril, os moradores disseram ter se assustado com estrondos e deslizamentos de terra no lixão. No entanto, a Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) alegou que não se tratava de explosões ocasionadas por gases tóxicos, como no Bumba, mas apenas uma erosão de material superficial.

Veja o vídeo da entrevista com Luciano: parte 1.

Quanto vale?


Apesar da interdição da unidade de depósito de lixo, e de visitas de autoridades civis e do Ministério Público, o impasse permanece. Os moradores garantem que o Ministério Público e a Defesa Civil teriam interditado aproximadamente 200 casas, tendo em vista a iminência de futuros deslizamentos e a intenção de construir um aterro sanitário no lugar. Porém, nem 20% das propriedades teriam sido indenizadas até o momento. Luciano afirma que a proposta do governo não corresponde ao valor real das casas e, além disso, seria exigida uma burocracia que os moradores não conseguem cumprir.

“Vocês sabem da burocracia e dos valores altíssimos para tirar uma escritura. Você tem que ter um engenheiro, advogado, arquiteto. E para eles fazerem a indenização aqui, eles estão querendo o RGI. Eu desempregado, com dois filhos. Como é que eu vou hoje custear um advogado, um engenheiro, certidão de ônus reais, certidão de não sei o quê, certidão de não sei que lá, para conseguir tirar um RGI para uma casa que vai virar lixo, que vai virar um aterro sanitário”, argumentou o morador, que lembra que a maioria das propriedades foi adquirida por contrato de compra e venda há mais de cinco décadas.

Embora o próprio governador Sérgio Cabral, em entrevista, tenha considerado a situação do Morro do Céu calamitosa, centenas de pessoas têm sido obrigadas a permanecer no local por falta de recursos, como é o caso de Vera Lúcia dos Santos, residente ali há mais de 30 anos.

Veja o vídeo da entrevista com Luciano: parte 2.

Vera Lúcia, moradora do Morro do Céu há 32 anos,
teve sua casa interditada
(Foto: Carolina Custódio)
Vera é uma das que ainda não conseguiram receber a indenização pela casa, embora já tenha a documentação em mãos. Além disso, a aposentada reclama que os R$ 400 recebidos através do aluguel social, fornecido pelo Governo do Estado, não são suficientes para cobrir as despesas mensais. A costureira lamenta o fato de, por enquanto, não conseguir nem mesmo receber parentes e amigos em casa.

"Há muito tempo a gente não sente um cheiro de um alimento bem feitinho, de uma comida. A gente limpa a casa e não sente um cheirinho de casa limpa. Vivemos uma vida impedidas de fazer muita coisa. Como no meu aniversário. Fizeram um churrasco para mim e eu tampei tudo e levei para a casa da minha irmã. Não havia condições, ou você comia com mosca ou não comia”, relatou Vera Lúcia.

Veja o vídeo da entrevista com Vera Lúcia


Galeria:



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1 comentários:

Anônimo disse...

Cabral está tomando as medidas cabíveis. Não é fácil deslocar tantas pessoas de um lugar assim. Não é só Cabral que vai resolver isso. O Prefeito da cidade também tem sua parte no trabalho.

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