domingo, 8 de agosto de 2010

Aterro interditado, fim do sustento

Marcela Sorosini e Renata Monteiro

(Foto: Marcela Sorosini)
Com a interdição provisória do aterro do Morro do Céu, parte da população local perdeu seu sustento. Dulcilene Alves, de 46 anos, sustentava seus quatro filhos com seu trabalho ali. A catadora teve sua casa atingida pelas chuvas e não pôde retirar seus pertences, pois o acesso está tomado por árvores caídas e pelos escombros das casas destruídas. “Estou desesperada, perdi tudo e não consigo buscar o que sobrou. Estou com medo de entrar na minha casa, parece que as paredes estão moles”, descreve Dulcilene.

A moradora reclama ainda que os políticos só aparecem no Morro do Céu em período eleitoral e fazem inúmeras promessas, mas é só. Segundo ela, um candidato chegou a prometer a pavimentação da Rua Antônio Carlos Brandão, nem que para isso fosse precisar “tirar do seu próprio bolso”, mas a obra não foi realizada.

As dificuldades no abrigo improvisado

Assim como Dulcilene, cerca de 70 pessoas, entre adultos e crianças, ficaram instaladas em uma creche da prefeitura, que apesar disso continuou com as suas atividades normalmente. As salas de aulas se transformaram em quartos, que por muitas vezes eram ocupados por três famílias ao mesmo tempo. Além do desconforto e da falta de espaço, essas pessoas ainda tinham que sair das salas às 7h e só podiam retornar após às 14h, quando terminam as atividades escolares.

Os desabrigados começaram a receber o aluguel social no dia 4 de maio, mas não adiantou muito. “Com esse dinheiro nem no morro a gente consegue alugar alguma coisa. Além disso, teremos que pagar luz, água e comprar coisas para a casa, pois perdemos tudo! É um absurdo o que estão nos pagando”, reclamou o morador Marcos dos Santos.

Os moradores contam que as doações nas semanas posteriores à tragédia diminuíram. Os alimentos não perecíveis eram suficientes, entretanto, faltavam material de limpeza, biscoitos e achocolatados. Os desabrigados lamentavam a ausência de temperos, frutas, legumes, verduras e carne.

Uma desgraça encobre a outra

Outra reclamação foi contra o descaso do poder público e da imprensa, que tinham todas as atenções voltadas para o Morro do Bumba. “Aqui nós também estamos sofrendo, aqui também morreu gente, mas a televisão só mostra o Bumba”, reclamou Juliana Pereira. Moradores relatam que helicópteros de grandes empresas de comunicação passavam direto por áreas afetadas sem filmarem o local, indo direto para o Bumba.

No dia 7 de maio, exatamente um mês após a tragédia, os desabrigados foram transferidos para o 3º Batalhão de Infantaria. Segundo eles, o 3º BI fica em uma região onde predomina uma facção criminosa rival à atuante no Morro do Céu. Além disso, os moradores ficam mais distantes de seus locais de trabalho. É o mesmo problema enfrentado pelas crianças, que não recebem bilhete para o transporte e vão sozinhas a pé para a escola.

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