terça-feira, 10 de agosto de 2010

Morro do Bumba, dois meses depois

Texto e Fotos: Laís Carpenter e Priscila Motta

Tapumes e escavadeiras na entrada
do que restou do Bumba
Dos instantes de correria, pânico e desespero do dia 7 de abril restaram apenas duas escavadeiras, tapumes cercando o local, o chorume escorrendo pela terra ainda umedecida, lixo, destroços de casas e escombros do que sobrou do Morro do Bumba.



Na subida do morro, no que um dia foi a rua Georgete Borrete, ficava a casa de Cleusinéia Martins dos Anjos, 36, e de seu marido, José Roberto dos Anjos Valentim, 37, que moravam na comunidade há 16 anos. Ali eles criaram as duas filhas, Thais, 15, e Samara, 9.

Nascida em Itaboraí, Cleusinéia diz que a família tinha planos de sair dali. Para isso, já havia comprado dois terrenos em Maricá, mas queria permanecer no Bumba até a construção da nova casa. Foi então que veio a tragédia e acabou com os planos do casal.

Samara procura salvar pertences
A família escapou ilesa dos deslizamentos, mas teve sua casa condenada pela Defesa Civil. Dias antes da demolição, retornou lá. “É a primeira vez que eu volto aqui depois do que aconteceu”, disse Cleusinéia, emocionada, enquanto tentava reconhecer, no monte de destroços que sobrou do morro, a casa de amigos, os estabelecimentos comerciais e as ruas que antes existiam no local. Roberto, que acompanhou toda a história mais de perto – pois foi ele quem retirou os pertences da família de dentro da casa –, deu a um amigo alguns objetos que conseguiu salvar, como uma pia e um armário de cozinha. “Eu não queria levar tudo. Tem muita tristeza nessas coisas”.

Samara procura salvar pertences
A dificuldade de encontrar nova moradia 

Caminhando por uma parte do Morro do Bumba não foi diretamente afetada pelos deslizamentos, encontram-se, nas estradas, buracos enormes que, segundo os moradores, já estavam lá antes da tragédia. “Isso já é problema antigo. No começo, a prefeitura mandava uma equipe para tapar, mas não demorava muito e os buracos abriam de novo. No fim, os moradores já estavam cobrindo com terra e pedras para que os carros pudessem passar”, relata Roberto, confirmando que a abertura desses buracos poderia ser um prenúncio de que a terra do local já estava cedendo.

Atualmente, a família está morando em Itaboraí, município que fica a aproximadamente 18 quilômetros de Niterói, único local onde conseguiram uma casa pelos R$ 400 do aluguel social. Mas a mudança para outra casa, mais perto dos locais de trabalho e escola, está próxima. “Agora não vou mais ter que acordar às quatro e meia da manhã para poder chegar ao trabalho na hora”, comemora Cleusinéia, que trabalha como doméstica em uma casa no Fonseca, bairro próximo ao Bumba.

O aluguel da nova residência é mais caro: R$ 500. Roberto, que trabalha com poda de árvores e limpeza de terrenos, comenta que a família tem condições de complementar a ajuda que recebe do governo, o que não é o caso da maioria dos ex-moradores do Bumba.

Apesar de ter sido criado para ajudar os sobreviventes de tragédias a se mudarem para locais seguros, o aluguel social muitas vezes não dá para pagar uma casa, ainda mais com as despesas extras, como as contas de luz e água. Por isso, muita gente permanece nas áreas de risco. É o caso de Lucimar Costa de Andrade, de 43 anos, que, como muitos vizinhos, continua a morar no Bumba, mesmo depois que sua casa foi interditada pela Defesa Civil: “Eu consegui me cadastrar para receber o aluguel social, mas, como não achei nenhuma casa por esse preço, continuo aqui no morro”.


Galeria:

Dois meses depois do desabamento, o cenário no Morro do Bumba é de completa desolação. Ao final, a família de Cleusinéia se despede da casa em vias de demolição. No muro, um sinal de protesto.

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