sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A solidariedade da professora vizinha ao Morro do Beltrão

Camille Grandin

A professora Marcela Fogagnoli, de 25 anos, moradora do bairro Santa Rosa, em Niterói, teve sua rotina alterada no último dia 5 de abril devido às fortes chuvas que caíram sobre o estado do Rio. Durante a madrugada, o Morro do Beltrão, na sua rua, desabou, deixando vários conhecidos seus desabrigados.

Ao acordar, por volta das 7h da manhã, Marcela se deparou com um intenso movimento e com inúmeras casas destruídas. Sua primeira reação foi de pânico, depois de comoção. “Minha primeira atitude foi oferecer minha casa aos parentes dos desaparecidos, caso precisassem comer, tomar banho, descansar, enfim. Eu sentia que precisava ajudar de alguma maneira. Não só eu, mas muitos moradores subiram o morro para prestar socorro às vítimas”, contou.

O socorro 

Em um primeiro momento, a professora e seus vizinhos ficaram sem saber o que fazer, somente após a chegada dos bombeiros e das autoridades é que as providências começaram a ser tomadas. “As pessoas que perderam suas casas foram encaminhadas para a escola estadual Guilherme Briggs, na rua de baixo, e para a creche comunitária”, contou. Nesse momento, Niterói, Rio e outras cidades estavam vivendo um verdadeiro caos, em função das chuvas. As primeiras recomendações foram para que ninguém saísse de casa e os que se encontrassem em locais de risco procurassem escolas e outros lugares que funcionaram como abrigos.

Durante aquela semana, as aulas foram suspensas e Marcela não foi trabalhar. Nesse período, organizou uma campanha de arrecadação de donativos através das redes sociais de que participa, na internet, e com amigos e conhecidos do “mundo real”. “A situação era desesperadora, só sentia vontade de reduzir o sofrimento deles, tinha família que perdeu tudo. Conseguimos arrecadar bastante coisa”.

A volta à rotina 

Depois de uma semana, o Colégio Estadual Professora Alcina Rodrigues Lima, onde dá aulas, em Itaipu, voltou a funcionar. Como está localizada na Região Oceânica, que não foi muito afetada pelas chuvas, a escola não serviu de abrigo e as aulas voltaram ao normal. “Como alguns de nossos alunos tiveram que abandonar os locais de risco onde viviam, eu e outros professores levamos roupas e alimentos para ajudar”.

O que surpreendeu Marcela e outros moradores do bairro em que mora é que nunca ocorreu nada que pudesse servir de alerta para uma situação dessas. “Desde que me mudei para Niterói, há 4 anos, nunca vi e nem soube de algo dessa magnitude próximo de mim”.

De volta para o risco 

Muitas pessoas estão desaparecidas, e a situação no morro pouco mudou. Para os moradores do Beltrão não foram oferecidos outros imóveis, nem alguel social. Por isso, a maioria dos moradores já retornou à comunidade.

“Muitas pessoas voltaram para suas casas, mesmo após terem sido interditadas pela Defesa Civil, o medo deles é que as casas sejam saqueadas. Além, é claro, de não quererem viver em abrigos à mercê da ineficiência do governo”, desabafou Marcela. As autoridades não se manifestam mais sobre o assunto e os moradores não sabem a quem recorrer, alguns estão reconstruindo moradias no mesmo local. De acordo com a prefeitura de Niterói, projetos de reurbanização e contenção das áreas atingidas devem começar a ser postos em prática ainda neste semestre.

1 comentários:

Custodio Almeida disse...

Também sou vizinho ao morro do Beltrão, moro na Elzir Brandão esquina com a Trav Beltrão.Convivi de perto com a tragédia e muito me preocupa a maneira incompetente como o nosso prefeito tem conduzido o assunto,pois simplesmente até hoje não vi nenhum pronunciamento dele e muito menos obras de contenção,construção de moradias,etc, tudo para que uma nova tragédia aconteça.Por incrível que pareça nada e ninguém consegue fazer com que o prefeito se movimente.A população de Niterói precisa fazer alguma coisa!Onde estão nossos vereadores que não conseguem cobrar do prefeito aquilo que é sua obrigação.

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