sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A ação de um anjo da guarda

Priscilla Hoelz Pacheco

Com os olhos mareados, o pedreiro Sebastião Nascimento mostra as últimas peças de roupa que sobraram de tudo que tinha antes de a chuva “carregar tudo embora”. Mas não se deixa abater. Logo põe um sorriso no rosto e exibe com orgulho as filhas, a mulher, Marta, e a patroa dela, Lúcia – que a família considera seu “anjo da guarda”.

O pesadelo começou na madrugada de 6 de abril, quando Sebastião soube, pelo telefonema de uma vizinha, do desabamento de sua casa. Ele e a família estavam na comemoração do aniversário da irmã de Marta, no Cubango, quando receberam a notícia de que a chuva havia destruído boa parte do Morro do Beltrão, em Santa Rosa. Sebastião disse que achou, no início, que o telefonema fosse uma brincadeira de mau gosto. Levou um choque quando chegou ao morro e viu o que tinha acontecido com a casa em que morava há três anos com a família.

A acolhida da patroa 

O pesadelo podia ter sido bem pior. Ao saber do desabamento, a patroa de Marta ofereceu a própria casa, no Pé Pequeno, para acolher temporariamente a família. “A Marta trabalha para mim há mais de 10 anos e eu não poderia deixar a família dela por aí, se posso dar um pouco da minha ajuda”, disse Lúcia.

A família sente a perda da casa, que custou dois anos para ficar pronta. Com a ajuda do cunhado, Sebastião ergueu sala, cozinha, banheiro e dois quartos. Mas diz que evita se lamentar, já que perdeu só bens materiais, enquanto alguns vizinhos perderam pessoas queridas. “A gente tem que botar na cabeça que com a graça de Deus dá para recomeçar a vida, mas tem gente lá que não vai conseguir fazer isso sem lembrar que perdeu a família. Não temos mais nada, mas a dona Lúcia foi muito boa deixando a gente ficar aqui por enquanto. O importante é que tenho meu marido e minhas filhas comigo”, disse Marta.

Bonecas novas para as meninas 

A casa de Lúcia não é muito grande. Tem uma sala pequena, dois banheiros e dois quartos. Mas como ela mora sozinha, tudo se ajeitou. A família ficou abrigada num dos quartos. Michele, 6 anos, e Daniela, de 10, dormem em um beliche, e Sebastião e Marta em um colchão doado por um vizinho de Lúcia.

Eles não querem abusar da boa vontade da simpática senhora de 65 anos. Sebastião espera pelo aluguel social e pretende, com o dinheiro, arrumar uma pequena casa para se mudar com a família. Daí por diante planeja “trabalhar cada vez mais e economizar o quanto puder para recomprar tudo”. Inclusive as bonecas das meninas. “Elas estão sentindo muita falta das bonecas, era a maior diversão delas. Vou fazer o que eu puder para pelo menos tentar comprar uma dessas novas pra elas, sabe?”. Michele e Daniela abriram um grande sorriso. Uma nova casa, com bonecas novas, representará o início de uma nova vida para a família.

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