segunda-feira, 27 de junho de 2011

População de Teresópolis se mobiliza pelos problemas que perduram desde a tragédia de janeiro

Por André Coelho e Mário Cajé

Cinco meses após as chuvas que devastaram a região serrana, moradores de Teresópolis continuam com os protestos por ações efetivas do governo para a reconstrução do município. As chuvas do dia 12 de janeiro deixaram mais de 380 mortos só em Teresópolis, onde se formou a Comissão de Defesa Popular.

No dia 3 de junho, a presidente Dilma Rousseff anunciou a liberação de mais de R$ 700 milhões para a região serrana. Os governos federal e estadual lançaram no dia o programa de recuperação da região, que prevê a construção de 6.840 moradias, obras de contenção de encostas e de reconstrução e recuperação de pontes, nos sete municípios afetados pela enchente. Na ocasião, Dilma acusou o “Everest da burocracia” pela demora na liberação dos recursos. De acordo com o cronograma do projeto, as obras terão início daqui a quatro meses e todas as unidades serão entregues até dezembro de 2012.

Apesar das promessas de todas as esferas governamentais, o grupo de oposição à prefeitura acusa o marasmo das ações governamentais e enxerga com ceticismo o anúncio. “Nada foi feito até agora”, diz o vice-presidente da comissão, Azra Vieira. “Os locais atingidos encontram-se da mesma forma ou pior. Isso sem falar dos indícios de mau uso de verbas para a reconstrução da cidade”, completa. Uma das principais exigências do movimento é a cassação do prefeito, Jorge Mário Sedlacek (PT), acusado de desvio de dinheiro público e improbidade administrativa.

O resultado da militância popular foi a criação de uma CPI na câmara de vereadores para investigar as denúncias. Mas o fato foi visto com desconfiança pelos membros da comissão. “Mesmo com a CPI, é evidente a omissão da câmara com o estado em que ainda se encontra a cidade. Desde o dia 12 de janeiro, a situação é a mesma: destruição”, disse Azra.

Membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tem acompanhado os depoimentos e reuniões da CPI. A maioria acredita que os interrogatórios realizados pelos vereadores abrem brechas capazes de anular uma possível cassação do prefeito apenas com recursos simples na justiça.

Para o professor João Luiz Lincoln, integrante da Comissão de Defesa Popular, relações político-partidárias foram as principais responsáveis pela situação. “Não houve fiscalização de outras esferas. A nossa prefeitura é aliada política do governador Sérgio Cabral e da presidente Dilma Rousseff”, afirma o professor.

Uma das principais críticas do movimento é que a prefeitura de Teresópolis ainda não disponibilizou o aluguel social a todos os desabrigados. O mecânico Nilo Araújo teve a casa na Barra do Imbuí destruída na tragédia do dia 12. “Saí de lá no dia e nunca mais voltei. Nem pra buscar minhas coisas. Até agora não recebi nenhuma ajuda da prefeitura. O aluguel social não sai por nada. Isso é um absurdo”, protesta. A prefeitura justifica que a ausência de recursos é a causa dos atrasos na distribuição dos benefícios.

No dia 12 de maio, manifestantes da comissão protestaram em Copacabana. Foram pregadas cruzes na areia da praia para representar os mortos nos deslizamentos. A mídia da cidade serrana repercutiu o protesto como uma forma de afastar os turistas já assustados e piorar a situação do município. Azra Vieira rebate: “O centro comercial de Teresópolis e os chamados ‘pontos turísticos’ não foram atingidos, então não tem como nossa manifestação ter atingido o turismo. Tínhamos o objetivo de mostrar ao Brasil e ao mundo a realidade que Teresópolis vive”, argumenta.

De acordo com o cronograma do projeto de recuperação da região serrana, as obras terão início daqui a quatro meses e todas as unidades serão entregues até dezembro de 2012.

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