domingo, 15 de maio de 2011

Capa de jornal vira protesto contra prefeitura

Por Bárbara Teixeira e Paula Pontes

O jornal já era velho, mas o protesto continuava atual. Por isso o Comitê dos Desabrigados de Niterói resolveu, em sua reunião do dia 2 de maio, espalhar pela cidade cartazes com a reprodução da capa do jornal Extra de 7 de abril, que estampava a foto do prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, debaixo do apelo de “Procura-se”, no melhor estilo faroeste.

Foi um protesto silencioso, que se materializou de madrugada e provocou uma rápida reação da prefeitura, que enviou garis para retirá-los dos muros.

O pessoal não esmoreceu. “Isso foi só o começo”, disse o presidente do comitê, Francisco de Souza, conhecido como Francisco do Bumba. Foram colados apenas 1 mil dos 5 mil cartazes.O restante seria distribuído em estabelecimentos comerciais e deixados nos pára-brisas de carros. Tudo para tentar demonstrar à população que as vítimas das chuvas continuam sem o amparo prometido pelo governo municipal.

Lembrando a tragédia

Após um dia de trabalho que parecia como outro qualquer, o técnico de eletrônica Francisco de Souza viu a rua em que morava desaparecer. “Eu ouvi como se fossem galhos secos quebrando na minha mão”. A primeira atitude foi procurar a própria casa, mas o mar de lama e lixo impossibilitava a visão. Em meio a gritos e pedidos de ajuda, escutou uma voz no local onde ficava uma escola: “Tio, cuidado. Eu tô aqui embaixo”.

Francisco partiu para a ação política como forma de retomar a vida. Tornou-se presidente do Comitê de Desabrigados, criado logo depois da tragédia. Participa de manifestações, organiza atividades para moradores de abrigos, está presente em reuniões políticas – na Assembléia Legislativa do Rio e em Brasília – e passa sua experiência para líderes de outras comunidades, principalmente as que já passaram por tragédias semelhantes.

O comitê se reúne semanalmente às segundas-feiras, às 19h, na sede do DCE da UFF, ao lado do Valonguinho. A construção de casas populares e o não pagamento do aluguel social são temas sempre em pauta, o que dá uma indicação do quadro de desamparo em que vivem os atingidos pela catástrofe de um ano atrás.

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