terça-feira, 12 de abril de 2011

Ato público relembra a tragédia causada pela chuva em Niterói há um ano

Por Túlio Clemente (texto e fotografia)


Um ato público realizado no dia 6 de abril, no Centro de Niterói, marcou o primeiro ano da tragédia causada pelas chuvas na cidade. Cerca de 300 moradores das comunidades atingidas, além de estudantes e representantes de sindicatos participaram da manifestação em protesto ao descaso com as vítimas dos deslizamentos e em memória aos 169 mortos na tragédia.

Os participantes se reuniram em frente ao prédio antigo da Prefeitura, na Rua da Conceição, onde moradores e líderes comunitários dividiram o microfone para reivindicar as parcelas atrasadas do aluguel social, além de melhorias nas comunidades atingidas.


Sem o aluguel social...

A família de Gláucia de Cássia, moradora da comunidade 398 da Estrada da Cachoeira, está entre aquelas que não receberam ajuda do governo, mesmo um ano após a tragédia. “Nenhuma das 25 famílias da comunidade receberam o aluguel social até hoje”, disse.

Sem condições para pagar aluguel e com a casa destruída pela tragédia, Gláucia vive hoje com a filha de 4 anos em um ferro-velho. “Eu já fiz seis cadastros na Assistência Social e eles me falam que o nome vai sair na próxima listagem, mas a tragédia já aconteceu há um ano e meu nome não saiu até hoje”.


...mas com o carnê do IPTU

Cristina Lima, moradora do Morro da Caixa D’Água, também não recebeu nenhuma parcela do benefício e atualmente vive em casa de parentes. Mesmo com a casa totalmente destruída, a moradora conta que recebeu o carnê do IPTU de 2011. “Somos tratados com muito descaso, pois nem Prefeitura, Assistência Social, Defesa Civil, ninguém toma uma posição”.

No Batalhão, pulgas e água fria

A manifestação também contou com a participação dos moradores que ainda estão abrigados no 3º Batalhão de Infantaria do Exército. De acordo com Anabela Ferreira, que vive no local com os três filhos há um ano, cerca de 300 pessoas dividem o espaço, entre elas crianças, idosos e deficientes físicos. “O lugar onde estamos é dividido em pequenos quadrados feitos com divisória de madeira. Está infestado de pulgas e não há água quente para tomar banho”, contou ela.


A manifestação percorreu o Centro da cidade, passou pela Câmara dos Vereadores e seguiu para a frente do novo prédio da Prefeitura de Niterói. Lá, além de novos protestos, foi realizado um ato ecumênico em memória dos mortos nos deslizamentos. Representantes de diversas religiões consolaram os familiares e também protestaram contra a falta de apoio do governo municipal com as vítimas das chuvas.

De acordo com o Comitê dos Desabrigados de Niterói, um ano após a tragédia, cerca de 10 mil pessoas ainda estão sem suas casas, sem receber o aluguel social ou com constantes atrasos no repasse do benefício.

Durante a passeata, moradores contam seu drama



Galeria:

1 comentários:

Anônimo disse...

E depois de um ano, as chuvas de abril repetem o estrago. Se não com desabamentos catastróticos como em 2010, com alagamentos que trazem o inesperado e catastrófico para muita gente. Eu vivi esse inesperado, embora, graças a Deus, não catastrófico. Voltando de Niterói às 21h50 e sentindo-me corajosa (embora imprudente) por ter conseguido atravessar um alagamento na cidade, recolho minha euforia ao chegar na Av. Presidente Vargas e ali fico até às 5 da manhã, 7 horas refugiada da chuva e, supostamente, de outras intempéries, dentro de um carro. Sozinha ali, como se não bastasse o medo da água subir, outro tipo de insegurança competia com o primeiro o tempo todo: "se algum assaltante decidir atuar por aqui, não há pra onde correr!" Em resumo: vulnerabilidade e impotência longas horas a fio. Lá pelas 2h ou mais, vejo pela primeira e única vez um carro de polícia e um caminhão de reboque passarem no local e me fixo nisso para concluir que tudo logo vai ficar bem. E meus alunos que estavam comigo até há pouco em aula, estariam bem? E as pessoas da parte alagada, estariam como? Pensamentos caóticos como aquela avenida como um todo: metade água, metade asfalto, motoristas na contramão ou andando em marcha ré e, os mais temerosos, imobilizados. Nesse longo período, o único alívio constante que eu via não eram policiais, guardas municipais ou alguém distribuindo água e qualquer alimento, que fosse. O único alívio era ver a chuva, depois de engrossar várias vezes, amenizar outras tantas, e os motoristas de ônibus, solidários, passando informação prontamente a todos que perguntavam. Se as ações paliativas não vêm a contento, imaginem as definitivas. Enquanto isso, vai o cidadão "dando o seu jeito", improvisado, de se prevenir e proteger, como arranjar um hotel em Niterói para a próxima vez que chover desse jeito. E repete-se a solitária experiência individualista dos tempos pós-modernos, postergando as urgentes transformações sociais.

Ana Paula Bragaglia - Prof. UFF / IACS

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