sexta-feira, 21 de maio de 2010


Por Carolina Andrade

Eu estava em casa, no computador, mas com a TV ligada. Não teríamos aula naquela semana porque o Iacs havia suspendido as atividades, por causa do desmoronamento no do barranco nos fundos do campus, que atingiu o prédio principal. Eram pouco mais de sete da noite. Estava passando RJTV 2ª Edição, era sobre o desabamento no Morro do Bumba, mas eu não estava assistindo. De repente ouvi um nome que me chamou a atenção: Kenneth. Deslizei minha cadeira para frente da televisão.

Vi uma mãe desesperada, mostrando a foto de quatro rapazes. Desesperada, dizia à repórter que seu filho era um deles e estava desaparecido. Eu não queria acreditar. Atônita, procurava o Kenneth na foto e achei. Completamente diferente do habitual: o Kenneth que conhecia era um cara que gostava de se produzir, tinha um jeito moleque, gostava de moda. Na foto ele estava com amigos na praia, totalmente “desproduzido”.

Fiquei congelada. É estranha, intraduzível, a sensação de abalo que sofremos quando a tragédia nos invade assim e de repente ganha um rosto familiar. Kenneth Christopher havia sido meu colega de trabalho no Núcleo de Comunicação Social da UFF, o Nucs, no prédio da reitoria, por meio de uma parceria da universidade com bolsistas do Colégio Salesiano. Não éramos amigos, ele era apenas um colega: um cara legal, extrovertido, engraçado. Eu gostava dele. Todos gostavam.

Na entrevista, a mãe dele dizia que dois dos meninos haviam sido encontrados. Voltei para a internet, entrei no Orkut, vi os scraps. Pelo mesmo site entrei em contato com dois amigos que também trabalharam com ele e que me confirmaram: era ele mesmo que estava desaparecido.

Dias depois acharam o corpo e o enterraram. Kenneth Christopher tinha 20 anos. Não morava no Bumba. Estava lá na casa de amigos, em uma festa.

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