terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Trabalhadores apelam por moradores de Santa Rita

Por Sylvia Moretzsohn
Fotos de José Carlos Suela

“Por favor, põe aí um apelo pro pessoal de Santa Rita. Eles estão isolados, sem água, sem comida. Precisam de ajuda urgente”.


O pedido revela a preocupação de Josias da Conceição Limeira com as pessoas que passou a conhecer desde que começou a trabalhar, há cerca de três anos, com outros parentes e colegas, na reforma de uma casa no alto do condomínio Retiro da Serra Fazenda Clube, na Fazenda Alpina. Moradores de Caxias, na Baixada Fluminense, o grupo viajava para Teresópolis, trabalhava alguns dias, voltava. Todos frequentavam o botequim da comunidade vizinha, compravam mantimentos, acabaram fazendo amigos.

“Devem ter morrido pelo menos umas cem pessoas”, calcula Josias. “Tem muita gente desaparecida, muita gente sendo enterrada por lá mesmo. Quem sobreviveu foi porque conseguiu subir no telhado”.

Zé Carlos conta o caso do porteiro do condomínio, Cláudio, que acordou de madrugada com a casa inundada e quebrou o forro com as mãos para levar a mulher e a filha pequena para cima do telhado. “Ele mesmo quase não conseguiu subir, porque estava em cima do armário e o armário desmontou. Por pouco não morreu”.

O começo do fim

Chovia muito na noite de 11 de janeiro e ninguém dormiu direito naquela madrugada, assustados pela intensidade da chuva e o barulho do vento. Pela manhã, Josias foi o primeiro a sair. Viu o terreno cheio de lama e deu pelo desaparecimento do material da obra, inclusive um cavalete muito pesado, que tinha ficado do lado de fora.

Ele e o sobrinho começaram a descer para ver o que havia acontecido, mas não puderam prosseguir porque o caminho tinha sido destruído. Retornaram e, com a ajuda do proprietário de uma casa vizinha, experiente em escaladas, se arriscaram por um atalho no meio do mato.


“A gente foi se agarrando em cipó, abrindo picada com facão. Era perigoso, podia cair uma tromba d’água, uma avalanche de barro, pedra”, comentou Josias.
Finalmente chegaram à base do condomínio. Só então tiveram ideia do tamanho do desastre.
“Nunca tinha visto nada assim na minha vida. Eu vejo muito filme de catástrofe. Era igual, só que não era ficção. Os carros pareciam de brinquedo, foram parar em cima das casas, ficaram esmagados entre uma casa e outra. Árvores imensas foram arrancadas igual palito, pedras enormes rolaram. Uma destruição completa”, descreve Josias.

Terra arrasada


Zé Carlos foi documentando tudo pelo celular: a casa destruída à beira do lago que desapareceu na enxurrada, o campo de futebol submerso, as três casas em volta dele, inundadas, o carro que foi arrastado e parou em pé entre elas, as cenas de desolação por toda parte.
A dona da casa do lago sobreviveu, mas seu marido morreu. Numa das casas à beira do campo de futebol, mais três mortos.

A situação mais grave, porém, era na comunidade vizinha, onde moravam pessoas que prestavam serviço ao condomínio e mantinham um pequeno comércio. Os que conseguiram sobreviver perderam tudo com a avalanche.


A volta, de helicóptero

Josias e Zé Carlos retornaram no dia seguinte, resgatados pelo helicóptero contratado pela família dos donos da casa. Foram levados até a Granja Comary e dali seguiram para a rodoviária, onde pegariam o ônibus para o Rio. Lá encontraram um amigo da região que tinha deixado o local pela manhã, a pé, com o filho. Tinham caminhado por sete horas.

Josias ficou muito abalado com tudo o que viu. “Eu nem consigo dormir direito pensando nas pessoas. Quero voltar lá. Não sei se conseguiria voltar a trabalhar ali, acho que não teria cabeça. Mas quero rever as pessoas, ver se posso ajudar quem ficou”.

1 comentários:

Anônimo disse...

Alguém tem notícias do pedreiro José Baiano? Ele era meu amigo. Tive uma casinha nesse condomínio, especificamente na rua conhecida como FAVELINHA. Vi imagens do local e constatei, graças a DEUS, que as casas dos meus amigos da "favelinha" estavam perfeitas. Ironia do destino ou não, a favelinha se segurou. Vendi a casa e saí de lá em 2008. Mas lembro que alguém de lá uma vez me disse que a barragem do lago estava com infiltração e passagem em sua base. Gente, aquele lago era artificial, e o fato de existir a mais de 40 anos, não queria dizer que não necessitava de manutenção. Sds e saúde a todos, Jaques

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