Ana Carolina Ferreira Martins
O casal José Soares Lino, de 56 anos, e Maria da Conceição Oliveira, de 60, aceitou a contragosto falar da tragédia vivida no dia 6 de abril. Cansados do insistente assédio dos repórteres durante tantos dias, os dois se mostraram irritados no início. Mas, aos poucos, a conversa foi se desenvolvendo.
Dona Maria demonstra interesse, apesar da precária situação de saúde em que se encontra. Sentada em uma cadeira de rodas por causa de um acidente vascular cerebral três meses antes do desastre no morro, com os movimentos bastante prejudicados, ela acompanha atentamente a fala do marido sobre o dia da tragédia.
José conta que, como sua casa estava em obras, ele e a esposa estavam passando uns dias numa outra residência, onde moraram anos atrás. Dava o jantar à esposa quando as luzes se apagaram. Logo vieram dois estrondos fortes e muita lama.
Sofrimento e prejuízo
A casa dos dois foi totalmente soterrada e a moradia provisória por pouco não teve o mesmo destino. Maria da Conceição precisou ser resgatada com a ajuda dos bombeiros, do marido e de vizinhos.
José sempre soube que ali era uma área de risco, mas decidiu ficar assim mesmo, e aos poucos ir investindo em melhorias. Ele calcula que seu prejuízo com o desabamento, entre obras realizadas, eletrodomésticos e objetos pessoais perdidos, passou de R$ 15 mil.
A esperança de uma nova casa
Durante a conversa, Maria fecha os olhos, José diz que às vezes ela se cansa e acaba dormindo, ela reabre os olhos e sorri. Volto a falar da realidade; ele me conta que está alojado no 3° Batalhão de Infantaria. Não é a mesma coisa que estar em casa, mas é bem melhor que o primeiro abrigo para onde foram levados, o Colégio Machado de Assis, no bairro do Fonseca, em Niterói. Ele diz que no 3° BI a mulher tem mais espaço para se locomover e ressalta as melhorias promovidas pela mudança.
Ao lembrar os inúmeros mortos, José demonstra uma profunda tristeza, apesar de não ter nenhum parente entre as vítimas. Ele se diz feliz por receber o dinheiro do aluguel social, e espera ansioso por uma casa nova. Maria sorri e os dois se entreolham, percebo que a expectativa é grande. Ele acrescenta que sua maior necessidade hoje é de acompanhamento médico para sua esposa, além, é claro, da casa prometida pela prefeitura: “Onde nos botarem, tá bom”.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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