Por Bárbara Queiroz e
Marry Ferreira
Rio de Janeiro, a
cidade maravilhosa e que agora também é olímpica, moldada a cada evento para
inglês ver. O mesmo Rio que, há um século, Pereira Passos tentou transformar na
nova Paris através de uma reforma urbanística que destruiu cortiços do centro da
cidade, separando famílias entre a periferia e o morro, dando origem às
favelas. Desde então, historicamente, o Rio de janeiro cresce sob moldes
ambíguos de governos que promovem pacificação por meio da violência,
disseminando a ideia de que é preciso ocupar e pacificar para depois implantar
políticas públicas, ou seja, primeiro entra a força e depois os serviços. O
modelo mais recente dessa pacificação é a UPP - Unidade de Polícia Pacificadora
- instalada nas favelas para segurança da população, na teoria, e, na prática,
para atender aos interesses de uma cidade que recebe grandes eventos e precisa
fortalecer sua segurança para turistas. Com isso, o que percebemos hoje é
um retrato da "modernização conservadora" de uma cidade que sempre se
forjou através da construção de diversas formas de relacionamentos sociais e
cidadania baseada no capital econômico, no impedimento dos direitos sobre o
corpo e da vontade soberana da grande maioria da população.
Historicamente,
governos tentam tirar os moradores da favela de sua “condição de favelado”. Nos
anos 90, o projeto Favela-bairro tentou urbanizar essas regiões do Rio de
Janeiro e, segundo o sociólogo Marcelo Burgos, a chave para entender o porquê
dessa tentativa é analisar o pensamento da sociedade do asfalto: pensar a
favela como um grupo que precisa e tenta ser cidade. Ou seja, o favelado é um
"cidadão de segunda classe" que não é parte do “nós” da cidade,
violento de tal modo que é preciso pacificá-lo para controlá-lo, a fim de que
não ofereça mais risco para os cidadãos. O mito da cultura da violência dos
favelados reafirma e consolida a barreira entre "eles" e
"nós". O importante não é ter a favela “controlada” para quem vive
lá, mas para a cidade ao seu redor.